Você sabe como ocorre o aprendizado? Nosso cérebro possui a incrível capacidade de aprender várias coisas novas, inclusive após dano cerebral! Os dados existentes sugerem que os neurônios, e outras células cerebrais, possuem a habilidade de alterar a sua estrutura e sua função em resposta a uma variedade de estímulos internos e externos. Esse mecanismo se chama NEUROPLASTICIDADE.
A neuroplasticidade é o mecanismo em que nosso cérebro codifica experiências e aprende novos comportamentos, é movida a mudanças no comportamento, mudanças sensoriais e cognitivas. Além disso, é um processo endógeno de reorganização de funcionalidade apropriada em cérebros saudáveis e, também é a chave para promover uma reorganização do tecido cerebral restante em um cérebro lesionado.
O dano cerebral resulta em muitas mudanças nos neurônios e células cerebrais não neuronais que podem alterar esses processos de aprendizagem. Além da perda de tecido cerebral no local da lesão primária, danos cerebrais causam grandes alterações neurodegenerativas e neuroplásticas nas regiões conectadas.
As atuais pesquisas em neurociência trazem que devem haver abordagens para uma melhora da função após dano cerebral, porém, para isso ocorrer, é necessário entender como a estrutura e função do cérebro podem ser levadas a uma remodelação em alguns dias, meses e anos após dano cerebral. Porém, mesmo após o acontecimento de alguma lesão cerebral, nosso cérebro consegue se reorganizar através da neuroplasticidade, reaprendendo movimentos e melhorando a funcionalidade do indivíduo.
A fisioterapia é um importante fator nesse processo de neuroplasticidade em um cérebro lesionado. Alguns princípios são considerados relevantes para o resultado da reabilitação e da neuroplasticidade, a qual é dependente da experiência de modelos de aprendizagem para a recuperação de danos cerebrais.
Os princípios são:
1. Use ou perca: deixar de utilizar um sistema cerebral devido à falta de incentivo ou uso, pode levar a uma degradação adicional da função.
2. Use e melhore: o treinamento de habilidades motoras após dano cerebral em apenas um lado do cérebro, melhora a função motora e impulsiona a neuroplasticidade restauradora nas regiões corticais adjacentes.
3. Especificidade: a natureza do treinamento dita a ação da neuroplasticidade, por isso o treinamento deve ser específico para cada indivíduo.
4. Repetição motora: a neuroplasticidade requer não apenas a aquisição de uma habilidade, mas também o desempenho contínuo dessa habilidade ao longo do tempo.
5. Intensidade: a estimulação do aprendizado em alta intensidade irá induzir uma potencialidade maior a longo prazo.
6. Tempo: durante a reabilitação irão ocorrer diferentes formas de neuroplasticidade em diferentes momentos.
7. Relevância: a experiência da reabilitação, por parte do indivíduo, deve ser suficientemente relevante para induzir a neuroplasticidade.
8. Idade: a neuroplasticidade induzida pela reabilitação ocorre mais rapidamente em cérebros mais jovens.
9. Transferência: a neuroplasticidade em resposta a uma experiência de reabilitação pode melhorar a aquisição de comportamentos semelhantes àqueles adquiridos durante a reabilitação.
10. Interferência: a neuroplasticidade dentro de um determinado circuito neural impede a indução de uma outra neuroplasticidade dentro do mesmo circuito, prejudicando o aprendizado.
A neuroplasticidade frequentemente possui uma ótima conotação quando descrita no contexto da recuperação da função, tendo a reabilitação como uma importante ferramenta para melhorar a reorganização e função após dano cerebral. O processo de aprendizado (neuroplasticidade) após uma lesão cerebral é extremamente importante para a recuperação da funcionalidade do indivíduo, então, o papel da fisioterapia é incentivar ao máximo esse processo, visando sempre a melhora do bem estar e da qualidade de vida desses indivíduos.
KLEIM, Jeffrey A.; JONES, Theresa A.. Principles of Experience-Dependent Neural Plasticity: Implications for Rehabilitation After Brain Damage. Journal Of Speech, Language, And Hearing Research, Texas, v. 51, n. 19, p. 225-239, fev. 2008.
Mariana Abrahão
Fisioterapeuta | Redatora em Saúde Vie Instituto